ADRIANA CALCANHOTTO
Lançamento do livro 'SAGA LUSA'
14 novembro 2008 | 19h
Quixote Livraria e Café
Rua Fernandes Tourinho, 274 - Savassi / BH
C.S: Hugo, por quê Miró?
H.L: A vida e a obra de Miró sempre influenciaram direta ou indiretamente a minha poesia. Desde as suas sinuosas linhas coloridas ao seu obstinado silêncio. Ao transcender a pintura, ele procura escapar à experiência puramente visual, conduzindo a sua arte por meio de uma atividade sistemática numa direção mais conceitual. De forma menos ou mais sutil, é o que venho buscando em tudo o que tenho feito enquanto arte, não só na poesia. O movimento e a cor que ele dá às suas telas é o mesmo que impulsiona e colore a minha poética. A delicadeza e a consistência dos seus traços são os mesmos que eu tento reproduzir na minha obra. Sem contar que Miró também fez muitas pinturas-poemas aliando a cor à palavra ou ao algarismo. Eu talvez faça o processo inverso, poemas-pinturas, associando elementos da pintura na reprodução das imagens que descrevo em meus versos. A linguagem pictórica de Miró evolui num sistema de sinais e de cores que traduzem cada elemento da natureza e impregnam a mais pequena coisa de uma ressonância mágica. Sinteticamente, é essa a minha relação com a vida e a obra dele.
C.S: E por quê as “Constelações”?
H.L: Bom, pouco depois do deflagrar do conflito mundial, Miró inicia uma série de pinturas chamadas “Constelações”, nas quais ele cria um cosmos pontuado de estrelas, luas, sóis e diversos signos. Essa série se tornou um marco na sua carreira e é a obra mais importante em toda a sua trajetória artística. De todas, é também a obra que mais aprecio pela singularidade, pela riqueza de detalhes, pela genialidade e pela delicadeza que permeia todas as telas da série. São estrelas, pontos, traços assimétricos, olhos e uma infinidade de signos que compõem a linguagem única e introspectiva do artista. Talvez, capaz até de traduzir o seu silêncio obstinado, porque eu acredito que de nenhuma outra forma Miró poderia ser mais sincero senão através de sua arte. Ele sempre foi uma pessoa reservada e muito criativa e prezava a singularidade que, aos poucos, foi se tornando sua própria identidade. Isso ganha infinitas proporções nessa série, “Constelações”, porque aquelas imagens jamais serão reconhecidas em nenhum outro artista. E, se terão a mesma idéia daqui pra frente, eu não sei. O que eu sei é que fui o primeiro a reproduzir toda essa “singularidade” dos céus de Miró no corpo, a imagem que escolhi nunca havia sido tatuada antes e isso enriquece, de certa forma, a importância da minha homenagem a um dos meus artistas favoritos. (Neste momento, Hugo dá algumas risadas, pede uma água e conta rapidamente que logo após ter terminado a tatuagem, rasgou a fotocópia do tatuador e o proibiu de refazer a tatuagem em outras pessoas).
C.S: Foi dolorido?
H.L: Eu diria que valeu a pena.
C.S: E você pretende fazer outras tatuagens?
C.S: Mas seriam outras reproduções de Miró?
H.L: Não sei. Pode até ser que sim, por que não? Mas não acredito que vá fazer mais alguma reprodução dele. Propus tatuar “Constelações” como uma missão e está já está cumprida. Não descarto possibilidades, mas acho pouco provável...
C.S: E onde foi que você fez a tattoo? Com qual tatuador?
H.L: Com o Leandro, da Santa Madre. Ele é namorado de uma grande amiga minha e é o dono do estúdio.
C.S: Ok! Muito obrigada pela gentileza em me conceder essa entrevista e eu espero que essa tatuagem marque então uma nova e excelente etapa na sua vida.
Sua voz
É a paz que ecoa
Harmoniosamente
Pelos pés direito
E esquerdo
Da Estação Central.
É sustenido de corpo
Leveza de tom
Canto que paira etéreo
Na galeria de som
Reinventando o Ofício
Da Música que toca.
Sua voz
Por si só, é a dança
Fluindo serena
Pelo tempo-espaço
Do salão principal
Desenhando no ar
Todas as notas
Que elevam a alma
Ao ápice do espírito.
É o infinito!
É a imensidão!
Sua voz é isso que pousa
Entre o jazz e o samba
Do meu poema-canção.
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Ele é indie, mas reconhece e assume as influências do punk, do folk, do rock, do britpop, do Lo-Fi, do hippie, do samba, do jazz, da bossa nova e até mesmo de movimentos como o tropicalismo, o cubofuturismo, o dadaísmo, o surrealismo, o minimalismo, o concretismo, a digipopart e a artbitch. Eu definiria como um kitschnightboy psicodélico um tanto quanto diabolique! Há quem diga que ele chega a ser inovador sem deixar de ser clássico, outros apostam numa pseudoloucura crônica. Entretanto, trata-se de um simples poeta pós-moderno que transita entre a alta costura underground e poesia contemporânea. É fascinado por cores, fala inglês e espanhol, adora pão-de-queijo, curte Björk, Cibelle, João Gilberto, Laika, Massive Attack e o mais vasto universo da boa música. É comum encontrá-lo pelos cafés de Belo Horizonte, movimentada cidade do oeste europeu de Minas Gerais onde vive numa enorme casa pintada de amarelo. É zen-hindu, medita, gosta de incenso e prefere alimentos secos, integrais e desidratados. Não dispensa boas taças de champagne, mas está muito bem servido com chás de morango ou sucos naturais. Sobre moda, arte que pesquisa intensamente desde os 13 anos, diz que sua inspiração vem do pside, do cyber, do punk, do folk, do clown e do conceito de estilistas como Reinaldo Lourenço, Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura, Viktor & Rolf, McQueen, Donna Karan, Victor Charlier, João Pimenta, Paulo Carvas, entre outros. Seu visual é essencialmente psidepunk, um pouco esquisito, mas altamente sofisticado, com muito movimento, descontração, buttons e acessórios coloridos. “Sei que sou extravagante e não me importo em parecer blasé. Moda é se sentir bem, não viver de grife!” – esclarece. É ascético, divertidíssimo, tem bom senso, não abre mão de boa educação e está entre os mais elegantes que eu conheço, sempre esbanjando sensualidade e simpatia. Causar emoção, reorganizar as coisas, traduzir o intraduzível, fotografar o instante, registrar o inexistente, dar cores à rotina acizentada do cotidiano são algumas das tarefas diárias deste poeta que, apesar de possuir uma escrita muito delicada e pontuada pelo abstracionismo filosófico, garante que sua poesia não quer responder, mas sim, indagar ainda mais o caminhante apressado que se perde pela multidão da cidade grande. Seus versos acontecem o tempo todo, do lado de dentro ou de fora da gente. Estudante de Letras, pretende se especializar em poéticas contemporâneas. É viciado em livros, desenha, rabisca, fotografa, inventa, decora, colore, recorta, recicla, canta e faz música moderna brasileira. É dono de uma das vozes mais etéreas que já ouvi, já cantou acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Palácio das Artes e, em 2003, colaborou na organização de duas exposições minhas em parceria com o crítico de arte e também poeta, Erthal Terra. Atualmente, publica seus trabalhos na Casa Sana e escreve para os sites da poeta, atriz e estilista, Larissa Mighin, e do publicitário Igor Amin. Para 2oo8, pretende dar continuidade aos estudos, ampliar a Casa Sana e criar projetos artísticos.
Por Gustavo Malheiros. 1º novembro de 2oo07. Londres, Inglaterra.
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