terça-feira, julho 31, 2007

MUDANÇA

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para minha querida Vera Casa Nova

Vera está de Casa Nova.
Mudou de princípios, de meios e de fins.
Só não mudou de si mesma
(nem de seus poemas).
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NOITE

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grão de coisa
lua
escarlate
noite
que brilha
dentro
de mim
vida
que nasce
corpo
que move
criança
que chora
com saudades
da mãe
poeta
que sofre
poema
que escreve
dia que não
amanhece
noite. só noite.
escuridão.
velas-não-se
coisa
lugar pra se guardar
lembrança
meia-noite
lua cheia
alguma coisa
dita regras
vai o morro
cavar o mundo
mundo grande
descoberta
vasto mundo
universal
raimundo
solução
edificar
é de ficar
no tempo
noite. só noite.
escuridão.
peças frias
pele morta
nausear
precisar
loucura
sangue que
escorre
gente que
passa
olho que

a vida
passada
passar
não acode
nem avisa
aterriza
aterrizar
noite. só noite.
escuridão.
silêncio
mudo
um poema
nas mãos
é meu nome
completo
Hugo
leve
nuvem
dentro
ele não enxerga
ele não escreve
ele não me encanta
canta não canta
encanta
um canto breve
ele vê
e (se observe)
no tempo
ele escreve
ele espera
dia após o outro
volta
revolta
retorna
e torna a
enlouquecer
brisa
enfim
amanhece
aparece
umedece
enlouquece
em silêncio
..................
tarde lilás
telhado amarelo
azul anil
noite. só noite.
escuridão.

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CIDADE GRANDE

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Casas entre arranha-céus.
O dia passa depressa.
Um homem vai correndo
(o táxi também).

Depressa, meu corpo levita.

Eta vida vesga, meu Deus!

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TRAVESSIA

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Eu li, no final de um livro,
o início de um novo tempo:
Era o Ser-Tão.

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CORPO EM TRANSE(TO)

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para Linsadora Sttérferson, minha querida.


Um homem nas palavras
atos, círculos, formas
Um homem no tempo
no interior de si mesmo
Um homem nas esquinas
de uma cidade que o ultrapassa
Um homem no trânsito
no corpo de sua formação

Um homem na espera
nas janelas da alma
Um homem nas saídas
partidas e chegadas
Um homem em movimento
nos transes do espírito
Um homem iluminado
Não é deus, não é buda
nem é santo

é apenas Um homem
sem passado, sem presente, sem futuro.

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CET APRÈS-MIDI

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IMAGES ET IMAGES
TRONÇONNEZ LE VERRE DANS L'ÉTAGÈRE
LE PASSAGE DE LA VIE
ET PRESQUE TOUT HOURS DE LA PLACE.
LES HEURES N'ÉTEIGNENT PAS LES JOURS
MAIS ILS AINDENT POUR OUBLIER LE TEMPS.

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DURAÇÃO

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te repito:
era assim o gosto
da tua carne nua
branda
macia
quase crua
teu sabor de pele
teu gosto de sol
ardendo em minha boca.
teus olhos castanhos
tua cor, tua vulva
tua intensa loucura
delirante,
teu "despejar-se" sobre mim...
Sim, te repito:
e no gozo da alma em transe
o prazer de estar só
e só
no silêncio dos amantes.
te repito
te rapto
te abandono

te abduzo.

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SLASH GLASS

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Seus óculos escuros
não são Dolce, meu bem
são Vitta.

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DE UM LIVRO

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Nietzche inventou as origens do sujeito fractal
no ciberespaço e na metafísica da subjetividade.
A desintegração do objeto na era do pensamento
é comun-ic-acional.

Na sociabilidade virtual, o subjetivismo moderno
ultrapassa
a informática da comunicação.

epílogo:
semióticos prólogos
protótipos poemas
(corações) e índices.

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ABAPORU

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Abaporu-homem
selvagem antropógago
idéia da terra
imagem do santo
ex-voto moderno.
Abaporu-homem
homem-que-come
homem da arte
imagem do quadro
que paira no tempo.
Abaporu-homem
enormes pés plantados
no brasileiro do chão.
Há de brotar um movimento,
um cacto, um sol.
Abaporu-homem
homem da face-semente
homem do pau-brasil
"o homem do Amaral
pintado a azul anil."
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quinta-feira, julho 26, 2007

TERÇA

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para Ana Cristina César.


terça frase. terça razão.
terça metade de um todo.
terça semana. terça ação.
terça resposta.
terça diária. terça ilusão.
terça imagem exposta.
terça arte. terça à tarde.
terça cor. terça.
febres terçãs e palavras
com seus quartos sentidos.

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ESPERA

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Anoiteceu e
até agora
nenhuma palavra foi dita.
Ele segurou minhas mãos,
olhou-me nos olhos,
deitou-se no meu colo,
acariciou os meus cabelos,
balbuciou alguns poemas,
até tocou alguns discos
e eu, pelo visto,
dancei com o seu silêncio.

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SOMOS SAPOS

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Tolos que somos,
e não somos primeiros,
compreendamos:
a grande arte é como
o Louvre de joelhos!

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VÔO-LIVRE

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para escrever em linhas tortas:
ser Deus (de papel)
.corpo

dinamizantes sentidos
opostos-se atraem
palavras
de um dicionário [lúdico]

eu me denomino
a bo mi no
/ e exociso
o "SER"

para escrever na diagonal:
m e t a f í s i c a.

coisas sem-nome (pelo avesso)
poemas descritos
linhas retas, curvas, turvas
.sentimentos

desejos
que vão saltar
l
i
g
e
i
r
a
m
e
n
t
e
do 100° andar
de mim.

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EM QUANTOS?

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para Eloísa Heisenberg.


92795 2 2235 2
520 0 0 652
301 3 0 862
1699 1987 1/02
1699 522 653
6345 22 670951 0
6.

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CYBERNÉTICA

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A carne está obsoleta.
A partir de agora sou
proto-humanista.
apeiron?

nec plus.
ultra(?)

Quais são os desejos de um
cyborg?
Os mais íntimos?
E os mais intensos?

Videota (couch potato)
Introdrogado (information junkie)

tecnófilos, on.
tecnófobos, out!

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APARÊNCIAS

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isto não é isto
nem aquilo
é este

e este não é este
nem aquele
é esta

e esta não é esta
nem aquela
é nesse

e nesse não é nesse
nem naquele
é nela

e nela não é nela
nem nele
é em mim

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EXPIRAÇÃO

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Si, quase, guspe
Clã do jabuti
Remate de males

A poesia que não é
A frase que não diz
O movimento que não faz
Macunaíma - A paulicéia desvairada

São Paulo! Comoção da minha vida
Uma face do meu verso
que até pensei não existir...

Um pouco do sangue deste tempo
é a hemorragia de uma era
era Abapuru, tristíssimo
em seu quadro, quieto
feito de terra

.....................
.....................

Si, quase, guspe
Clã do jabuti
Remate de males

Não quero dizer nada
porque a poesia não é
a frase não diz
o movimento não faz
e eu não sou poeta.

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quinta-feira, julho 19, 2007

RESPOSTA

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para Nelson Nobu


Minha poesia?
Ah, minha pobre poesia...
Tão trêmula em seus contornos,
tão simples e tão frágil,
tão assim, tão assada,
tão crua de si mesma.

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