sábado, setembro 29, 2007

dO Poeta


.de escrever.
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AUSÊNCIA DE MIM

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desejo estar distante
mais longe dos meus pensamentos
exilado de tudo o que me condiciona
não quero mais me corresponder com as palavras
não quero mais a mesma fuga, não quero mais a mesma dor
mas quero outra vez a mesma saída
o mesmo exílio da alma
o mesmo descanso de sempre
serão inúteis todas as outras palavras
serão inúteis todos os seus gestos
todos os meus apelos não vão me libertar
mantenho a idéia fixa de me fixar
no menor ponto de mim
e ali me guardar
concêntrico
mas não a morte, contudo
só o silêncio, só o escapar de mim
só o me guardar
só a mesma solidão
e a tristeza ao meu redor
só o mesmo quarto frio
as mesmas páginas, o mesmo vinho
e a caneta a deslizar meus sentimentos


***poema escrito em meados de 2004.

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CONSTELAÇÃOdoCÉUdaBOCA

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arqui-
pé-
lago-
de luz mascável

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ATE NU AR

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ATE
NU
AR
ATE
NO
AR
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terça-feira, setembro 25, 2007

POR NELSON NOBU

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CYBERPOET, LITERALMENTE FALANDO...
*Por Nelson Nobu

Hugo Lima é o mais novo integrante do site CIBEREXPRESSANDO, criado pelo publicitário Igor Amin. Além da Casa Sana, seu blog oficial, e do "O(lh)ares ao Co(r)po", onde escreve ao lado de poetas como Larissa Minghin, Roberto Leonan, Jonas Rocha, Paula Gicovate, CJ, Ricardo Siqueira, entre outros, Hugo ingressa agora num espaço reservado à expressão multimidiática onde a sua poesia interage ciberneticamente com diversos outros contextos verbivocovisuais. Em seu texto de estréia, SELF-PORTRAIT, ele faz uma reconstrução de "Auto-Retrato", uma espécie de 4x4 escrito em meados de 2006. Um verdadeiro cartão de visitas literário que marca, "em bons tons", mais um grande momento na vida de um dos mais novos autores da poesia contemporânea. Vale a pena conferir!

Leia também:

O(LH)ARES AO CO(R)PO
COMUNIDADE "O POETA"

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segunda-feira, setembro 24, 2007

AOS TEUS

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tarde
que se põe
entre os
dedos

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ERRÂNCIAS

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Sob um céu de lona
traço
um retrato do amor quando jovem.

Poesia. Pois é, poesia.
De Décio
ao Pignatari azul,
na contracomunicação de
vocogramas.

Entre medula e osso,
a geléia geral.

(Arrisco um risco de
Schoemberg.)

Ainda resta, no resto da tarde,
o rosto da memória.

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sexta-feira, setembro 14, 2007

dO PoEta


::: pausa pr'um café :::


photo by Hugo Lima

segunda-feira, setembro 10, 2007

A PAISAGEM

OU
OUTRA FORMA DE CORPO
OU
TRADUÇÃO DE UM SONHO EMPÍRICO

[Todas estas palavras me foram ditas num sonho]


Sou como o caracól que pousa nos olhos da planta
ou como a arquitetura da casa que é o meu corpo.

Sou como o ventre da tadre, as mãos do amanhã
os pés da noite-madrugada que persegue o meu sono.
Eu sou o silêncio ensurdecedor do desejo.

Sou o canto de um pássaro, uma phoenix de asas douradas.
Sou só mais uma porção de mar, um grão de areia,
os braços de um rio que abraça o oceano.
A textura dos meus dedos é o adeus pontilhado na sutileza dos meus gestos.

Cada vão de mim é um céu aberto, um vôo de asa-delta
pelo ar dos meus sonhos.
Um florão no meu peito
que enfeita o teto da casa de pedra-pomes.
Tenho pés-de-vento, capim dourado nos cabelos,
pedaço de brisa no olhar, que é triste, senão, azul
tão cinza como o mar vermelho.

Tenho cores na alma e estados de espírito.
Virtuoso colírio de alcançar nos meus olhos
o brilho das elétricas folhas secas
que caem aos pés do outono.

Tenho a leveza dos muitos dizeres,
o ruído das conchas, o assoprar das ondas,
o canto das sereias,
a palma da alma da mão,
o desvão do Éden, o edema de mar,
acúmulo de dias líquidos, chovoso delírio
de umedecer a terra com absinto.

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domingo, setembro 02, 2007

CARTA EXTRAVIADA

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Jaboatão dos Guararapes, Brasil - Pernambuco / Nordeste


Dia 1 de agosto do 2007

Caríssimo amigo Hugo,


Estou ritmado agora. Curtindo o beat. Sacando o groove. Indo na vibe. Sem jazz, sem folk, sem blues. Estou todo Belo Horizontado. Fragando a sensação. Hu gosto musical de Hugo Lima lima o resto do mundo agora. Estou sambando ouvindo os carros, bebendo sobre as motos, indo para a boate de ambulância (com sirenes ligadas!).

Estou todo vivendo. Em constante “não-parança”. Estou todo movido, mobilizado, lido, relido, feito traça em papel amarelado comendo o “m” da palavra. Estou te ouvindo, bailando com sua persona musical, sentindo os ritmos da sua alma. Não sou homem de detalhes (mentira) então vou sentir você na massa sonora do todo para saber quem você é (e isso talvez não seja mentira).

Estou todo abismado. Sofri uma queda em um abismo. Adentrei o vale da vida, no vão dos que estão vivendo muito, tenho me dado bem aqui.

Há sempre saudade do que já foi vivido, é bem verdade. A isso eu chamo história. História se escreve com algumas letras, portanto cartas. Cartas são diálogos costurados por monólogos, portanto atores, portanto autores. É necessária alguma direção para tudo isso, portanto comandantes do navio das vidas, portanto diretores. Para não haver sóbria e mórbida rotina é preciso alguma graça, portanto artistas, portanto brasileiros. Há que haver também algo mais que ação e reação, portanto humanos, portanto bichos homem. Há que haver um grande motivo para nos correspondermos, portanto amigos, portanto confidentes.

Te acho capaz de criar vidas, dar vida a vãos interiores genuínos ligados pelo traço da sua poesia. Você é também um rapaz abismado, Hugo, só não sei como se relaciona com os vales da vida por onde passa. Isso não importa, de fato.

Às vezes sinto você como um canal de luz que veio ao mundo trazer alguma grande mensagem. O problema é que todo bicho humano tem que carregar o tal fardo da humanidade e todas as suas necessidades. Às vezes é difícil a beça lidar com essa pequena grande variável.

Talvez seja assim com os poetas, com os artistas, com todos que trazem traços do criador. Afinal, toda criação tem um “que” de humano, toda criação tem um “que” de divino. Cabe a nós permear essa existência com busca, com alguma dúvida eterna e então aceitar o que vier.

Vamos aprender com o sertão e os pássaros. Deixemos o resto ao som do silêncio ou de alguma música. Que a vida seja uma ópera rock ou uma singela canção. Que tenha sempre um solo de clarineta. Que quando chorar, eu soe um trompete e, quando delirar, soe uma harpa.

Sou sempre próximo, Hugo, mesmo quando pareço distante. É que eu estou sempre indo, difícil é saber quando vou chegar.


Abraços fraternos,

Fred FurtadO.

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