C.S: Hugo, por quê Miró?
H.L: A vida e a obra de Miró sempre influenciaram direta ou indiretamente a minha poesia. Desde as suas sinuosas linhas coloridas ao seu obstinado silêncio. Ao transcender a pintura, ele procura escapar à experiência puramente visual, conduzindo a sua arte por meio de uma atividade sistemática numa direção mais conceitual. De forma menos ou mais sutil, é o que venho buscando em tudo o que tenho feito enquanto arte, não só na poesia. O movimento e a cor que ele dá às suas telas é o mesmo que impulsiona e colore a minha poética. A delicadeza e a consistência dos seus traços são os mesmos que eu tento reproduzir na minha obra. Sem contar que Miró também fez muitas pinturas-poemas aliando a cor à palavra ou ao algarismo. Eu talvez faça o processo inverso, poemas-pinturas, associando elementos da pintura na reprodução das imagens que descrevo em meus versos. A linguagem pictórica de Miró evolui num sistema de sinais e de cores que traduzem cada elemento da natureza e impregnam a mais pequena coisa de uma ressonância mágica. Sinteticamente, é essa a minha relação com a vida e a obra dele.
C.S: E por quê as “Constelações”?
H.L: Bom, pouco depois do deflagrar do conflito mundial, Miró inicia uma série de pinturas chamadas “Constelações”, nas quais ele cria um cosmos pontuado de estrelas, luas, sóis e diversos signos. Essa série se tornou um marco na sua carreira e é a obra mais importante em toda a sua trajetória artística. De todas, é também a obra que mais aprecio pela singularidade, pela riqueza de detalhes, pela genialidade e pela delicadeza que permeia todas as telas da série. São estrelas, pontos, traços assimétricos, olhos e uma infinidade de signos que compõem a linguagem única e introspectiva do artista. Talvez, capaz até de traduzir o seu silêncio obstinado, porque eu acredito que de nenhuma outra forma Miró poderia ser mais sincero senão através de sua arte. Ele sempre foi uma pessoa reservada e muito criativa e prezava a singularidade que, aos poucos, foi se tornando sua própria identidade. Isso ganha infinitas proporções nessa série, “Constelações”, porque aquelas imagens jamais serão reconhecidas em nenhum outro artista. E, se terão a mesma idéia daqui pra frente, eu não sei. O que eu sei é que fui o primeiro a reproduzir toda essa “singularidade” dos céus de Miró no corpo, a imagem que escolhi nunca havia sido tatuada antes e isso enriquece, de certa forma, a importância da minha homenagem a um dos meus artistas favoritos. (Neste momento, Hugo dá algumas risadas, pede uma água e conta rapidamente que logo após ter terminado a tatuagem, rasgou a fotocópia do tatuador e o proibiu de refazer a tatuagem em outras pessoas).
C.S: Foi dolorido?
H.L: Eu diria que valeu a pena.
C.S: E você pretende fazer outras tatuagens?
C.S: Mas seriam outras reproduções de Miró?
H.L: Não sei. Pode até ser que sim, por que não? Mas não acredito que vá fazer mais alguma reprodução dele. Propus tatuar “Constelações” como uma missão e está já está cumprida. Não descarto possibilidades, mas acho pouco provável...
C.S: E onde foi que você fez a tattoo? Com qual tatuador?
H.L: Com o Leandro, da Santa Madre. Ele é namorado de uma grande amiga minha e é o dono do estúdio.
C.S: Ok! Muito obrigada pela gentileza em me conceder essa entrevista e eu espero que essa tatuagem marque então uma nova e excelente etapa na sua vida.
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