terça-feira, agosto 14, 2007

DO POETA


.Mesa de escrever.
.

ME OFEREÇO

.

Adoro prazeres
Sei andar de bicicleta
Giro discos de vinil
Gosto de jazz
Escrevo amores no muro
Me finjo de bobo
Bebo água da chuva
Conto estrelas
Reinvento amores
Faço das tripas coração
Invento tardes poéticas
Enfeito cartas floridas
Coleciono livros
Confeito madeleines
Me lambuzo em chantili
Guardo chaves no tempo
Desenho risadas avulsas
Bordo borboletas
Costuro poemas
Recrio paisagens
Faço yoga
Fotografo dias cinzentos
Faço promessas ao pé do ouvido
Às vezes acordo nublado
Durmo de concha
Desejo noites em claro
Lustro desejos e
Transpiro madrugadas em silêncio.

Eu me ofereço pela metade do preço.

.

SOBRE NÓS

.
há muitos segredos...

.


terça-feira, agosto 07, 2007

...

.

Visto-me com as estrofes de um poema sujo
Abotôo seus botões de versos
(e) ajeito frases e dizeres.
Calço as rimas e dou um nó.
Caminho palavras pela noite escura.

No bolso esquerdo, minha cultura posta em questão,
No céu da boca, a poesia em pânico,
Na ponta da língua, presságios do meu desejo,
Na ponta dos dedos, o sentimento do mundo,
Presos na garganta, poemas malditos, gozosos e devotos
E na palma das mãos, minhas primeiras estórias.

Com meus olhos de cão, enxergo além da vida
Uma passagem do tempo – transcendental e metafísica.
O caminho para a distância que se abre dentro da noite veloz
É apenas uma vertigem, uma transmutação do medo.

Sou um cão sem plumas, educado pela psicologia da composição.
Vivo a vida passada a limpo no eterno brilho de um retrato natural.
Perto do coração selvagem, guardo os desastres do amor, os subterrâneos da liberdade e as impurezas do branco.

Caminho perdido no meio do caminho
Como quem quer e não quer encontrar uma lição de coisas
Coisas que não sei o nome, coisas de um segredo oculto,
Coisas que não dizem nada, coisas que me dizem tudo.
Caminho em ritmo dissoluto. Só, triste, confuso...

Há uma gota de sangue em cada poema
Que escrevo com as palavras que caminho.
Abotôo meus versos como se perdesse a vida
Caminhando distraído pela noite escura.

Nas cinzas das horas, meu coração e meus passos
Sussurram aos meus ouvidos:
- Distraídos venceremos!

E aqui, a história se acaba
aqui, eis o fim de tudo
aqui, eis o fim que se foi
E me dispo.
[...]

.

TRANSITISMO

.

transição
transitório
transito
transmito
transmuto
transcrevo
transfiro / sentimentos
traduzo / sensações
translúcido
/ dentro do meu transsentir.
transcorro minha vida
minha lida, lida dor
dor lida
transcrita em papéis de translhetins.
De mim, saem transeuntes
transcendentes
transcendentais
transfundidos
transigentes
trasmissíveis
/ pensamento transitário
/ transmatriz.
a eloqüência / a alusão
a elucidação do meu contrário
translatário
transformação
transmaginário
trans-unção
transfusão
.......................
transitor,
transminto
transitismos
ao suportar a transição
do meu ser transitório.

.

CORRESPONDÊNCIAS

.

correspondências
correspondentes
correspondances
correspondences
correspondencia

cartas avulsas
avessas
avencas

alforria literária:
"cartas também são gestos poéticos."

.

DELICATEZ

.
"afoguei-me
mar adentro
de mim"
enquanto espero tardes de sol
você se delicia com a chuva
você faz de conta que não percebe
que a vida é um romance
e eu, no meu canto, sempre aflito
espero uma palavra, um gesto, algum sinal.
você não dorme (e eu desejo)
você não beija (e eu espero)
A gente sempre caminhando por caminhos opostos:
eu sem você - esta página em branco
você sem mim - nossa história sem enredo,
sem início, sem meio, sem fim.
.

QUANDO O AMOR DÁ ERRADO


PREÂMBULO

.

ser pele
ser amor
ser leve

amar, apenas.

deixar-se por si só
e ser.

.

SER-TÃO

.

O ser-tão dos sertões
rosa, guimarães
redemoinho dos ventos
sussurruídos e retrovões
veredas, descaminhos
fabulações das passagens.

- Nonada. Tiros que o senhor ouviu
foram das travessias disparadas.

o Sertão está em todo lugar!

.

DEITE-SE AO MEU LADO

.

.


Deite suas noites no meu colo
e deixe-se amanhecer com meus abraços
esqueça-se no leve delírios dos meus pensamentos
e durma, com meus olhos, a paisagem do silêncio.


.

N.Y.

.

para Gus Braga e Nina Ruiz, amantes iorquinos de N.Y.C.


Comun-ic-ação entre
sirenes
buzinas
semáforos
olhares
gestos e
sinais

entre
hellos
e goodbyes.

.

AL QUÍMICO

.

Proust não sabe
mas, eu também me isolei.

.