terça-feira, maio 29, 2007

DIVERSIDADE CULTURAL

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A reinvenção dos conceitos de Cultura
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A convite do professor e antropólogo José Márcio de Barros, participei das mesas redondas do “Seminário Diversidade Cultural – Educação, Desenvolvimento Humano e Desdobramentos” que aconteceu nos dias 21 (Dia Mundial da Diversidade Cultural) 24, 25 e 28 de maio, no Palácio das Artes.
O Evento foi realizado pela Diretoria de Arte e Cultura da PUC-Minas, pelo Ministério da Cultura, através da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural e pelo SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão. A USIMINAS, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e a FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais patrocinaram o seminário que foi realizado em parceria com a Fundação Clóvis Salgado e com a ONG GERM - Grupo de Estudos Sobre as Globalizações. Além disso, houve o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e da Embaixada do Canadá – primeiro país a adotar a política de multiculturalismo do mundo – representada pelo embaixador Guillermo Rishchnski.
O objetivo destes debates, segundo o seu organizador, é o de ampliar a reflexão sobre as relações entre a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Além disso, propõe promover o conhecimento e criar competências para o trabalho com a diversidade cultural, desenvolvendo perspectivas metodológicas de atuação com o pluralismo cultural.
Participaram do evento especialistas no assunto como a representante da UNESCO, Jurema Machado, que abriu as discussões questionando a efetividade dos projetos. Para isto, foi criada uma convenção, por ser um instrumento jurídico internacional que garante a soberania dos países integrantes, no que diz respeito às políticas culturais, e por ser o meio mais forte de tratar da promoção e da proteção da diversidade cultural, uma vez que esse instrumento gera direitos e obrigações. Cinqüenta e sete paises já estão integrados à convenção sendo a Costa do Marfim o ultimo país a integrá-la. Jurema também propôs a melhora da qualidade das informações na área e a difusão das idéias debatidas no seminário através da televisão, do rádio e da Internet, veículos mais acessíveis sociedade contemporânea.
Giselle Dupin, representante da FUNARTE e do MinC, destacou a criação da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, em Brasília, que é, até então, a única secretaria que promove e protege a diversidade de culturas do mundo. Essa secretaria visa democratizar o acesso às políticas culturais, viabilizando a comunicação entre as comunidades e o governo. Para isto, foram criados projetos como o “Prêmio Culturas Indígenas” que prestigiou iniciativas de promoção e proteção da diversidade cultural indígena, valorizando as línguas nativas, resgatando a culinária, as práticas religiosas, o artesanato, entre outros. Com essa premiação, foram contemplados 52 projetos com R$ 15.000,00, cada um, para incentivar e dar continuidade aos trabalhos. Nesse mesmo sentido, falou também o professor, antropólogo e representante da comunidade indígena Baniwa, Gersen Luciano Baniwa, sobre alguns pontos importantes para a valorização das culturas nativas como, por exemplo, a educação intercultural, as políticas de valorização das culturas indígenas, o intercâmbio entre escolas indígenas e não-indígenas, a produção de livros didáticos baseados nas temáticas indígenas, entre outros. Discutiu-se também o reconhecimento de outras línguas oficiais como o tupi-guarani.
Os afrodecendentes, os povos ciganos, os moradores do Vale do Jequitinhonha, os moradores da Juréia, os catadores de siri, dentre outras comunidades tradicionais, também contam com programas como a Fundação de Promoção e Proteção da Diversidade Cultural dos Afrodecendentes, a Fundação Cultural Palmares, etc. Os homossexuais também têm a sua identidade protegida pela Campanha Nacional de Proteção à Cultura GLBT.
O Secretário Sérgio Mamberti, representante do MinC, atentou para as leis de incentivo com representações em todas as regiões do país na tentativa de descentralizar os projetos, e para os 600 pontos de cultura que fornecem, com fundos do governo, condições para a continuidade e o aprofundamento desses projetos. No âmbito mundial, há várias intervenções do Brasil como o “Ano do Brasil na França”, as participações do país na Copa e nos jogos olímpicos, os centros culturais brasileiros em Miami e em outros lugares do mundo, entre outras.
Um ponto bastante discutido foi o que diz respeito à criação da OEA (Organização dos Estados Americanos) que, através de seminários, visa disseminar, nos países que não participam da convenção, idéias que promovam e protejam suas diversidades culturais. É importante destacar que os Estados Unidos não integra a convenção e a sua não-participação é polêmica.
O doutor Márcio Antônio Salvato, economista do IDHs – Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável – que participou da mesa no dia 25, fez um paralelo entre cultura, desenvolvimento humano e economia e, através de gráficos, apresentou uma espécie de “mensuração” da Cultura no ponto de vista econômico, mas sem falar especificamente em números. Um dos pontos mais importantes que o economista levantou para o desenvolvimento humano e social no que diz respeito à Cultura é ampliar as “escolhas” dos indivíduos. Existem 4 componentes essenciais no paradigma do desenvolvimento humano: eqüidade, sustentabilidade, produtividade e empoderamento. Quanto à pobreza, percebe-se uma reavaliação do conceito reconhecendo as variações do termo. O que é pobreza para quem mora no Rio de Janeiro, por exemplo, pode não ser para que vive em Manaus, e a cultura está intrinsecamente ligada a essa questão.
A antropóloga Tânia Dauster, professora da PUC-Rio, fez o relato de uma pesquisa em torno da presença das classes menos favorecidas (negros, pobres, etc.) na Universidade, mencionou a construção de um novo ator social - o estudante de baixa renda que enfrenta inúmeros desafios na busca pelo alcance de seus objetivos, e a construção de redes de solidariedade pelos programas de pré-vestibulares comunitários. A professora nos contou também que há muitas formas sutis de exclusão dentro da Universidade (algumas vezes, por parte dos próprios professores) e isso acarreta, entre outras conseqüências, na construção das fronteiras simbólicas, onde certos alunos (geralmente, os menos favorecidos) se sentem melhor em determinados ambientes do que em outros e, na verdade, todo o espaço acadêmico deve ser de e para todos.
A professora da UFMG, Nilma Lino Gomes, pós-Doutora em antropologia urbana, encerrou as discussões, no dia 28, em altíssimo nível de fluência e qualidade, debatendo o segmento negro da população e a diversidade étnico-social, além de apresentar uma coletânea da produção crítica dos negros no Brasil e apontar os grupos de intelectuais negros.
É importante ressaltar que Cultura não é só arte: são valores, posturas, hábitos, lugares, conhecimentos, técnicas, identidades comuns e diversas, conceitos, saberes e fazeres múltiplos. Cultura é a representação máxima de um povo baseada na diversidade, que é a construção histórica, social e política das diferenças.
A diversidade não é (e nem pode ser) apenas um tema de discussão em mesas de debate, ela se concretiza em corpos, na história e na vida social das pessoas. Portanto, diante de uma discussão tão rica como esta, cabe a nós cuidar para que o debate da Diversidade Cultural não se torne um mito e que os seus resultados possam nos chamar cada vez mais a atenção para esta realidade. O desafio é o que nos move a refletir o conceito de cidadania, e enquanto cidadão, devemos priorizar e reivindicar sempre o nosso direito à igualdade social.
Não se podem tolerar as diferenças, tem-se que reconhecê-las e não custa lembrar que a razão básica do preconceito é a ignorância.
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* Texto escrito por Hugo Lima em 29 de maio de 2007, extraído do "Seminário Diversidade Cultural - Educação, Desenvolvimento Humano e Desdobramentos".
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quinta-feira, maio 17, 2007

EXPLOSÕES/ ISCAS/ SEXTAS-FEIRAS 13/ ALUSÕES REPENTISTAS/ E O CACETE...

(ou autodefinição por um padrão repentista)


Esmiuçando
Esfiapando
E despedaçando
Desmorono-me e revelo-me em nuances
No prisma de meus eus e ais.
Assim sem mais,
Me traduzo ao pé da letra,
Ou tento:
Fragmento sem encaixe
De poema sem saída.
Cafarnaum de partes e pestes
E portos e places,
Sem cais e cordas,
Com caos.
Editor de rasuras, em explosões repentistas.
Foguetório/Crematório das neuroses,
Psicoses e metempsicoses.
Escarcéu de cores, cóleras, taras, crimes,
Desvãos prateados
Engalanados de noturnas insônias, infâmias, insânias
E blasfêmias.
Limo cor de musgo.
Céu cor de gelo.

Vou abrindo e fechando
Fechando e abrindo
Minha caixa de Pandora.
Sou sócio, carteira assinada e livro de ponto,
Do clube onde poesia e fogo se entremeiam.
Componho partituras em sílabas,
Fundindo escrito e oral
Na marra, no pau
À beira de um troço.

Mas eis que fico tonto,
Escuto vozes,
Misturo-me às alucinações
Feito simbiose.

Sigo,
E não traduzo
As algaravias ruminadas
Das vias esburacadas
De minha carcaça estofada
De tudo o que abrange
A palavra enigma:
Apraxia.
Sou senhor de mim mesmo
Até onde olhos vêem.
Descendo das elegias, das odes, das palinódias,
Das paródias, das glosas, dos sonetos,
Dos tercetos e sextetos, cianuretos,
da poesia incrustada feito fruta cristalizada
no pão doce.
Da expressão chama+abc,
Do canhão lançador de sincretismos ilusionismos e paradigmas
À fortaleza inimiga.
Da porralouquice
Em freadas bruscas.
Da iconoclastia, da iconolatria,
Da magia negra.
Das macumbas, das quizumbas, catacumbas.
Do moderno, do inverso, do inverno,
Da “boca do inferno”
Eis Gregório incorporado.
Do Santo do Pau Oco,
Do espírito de porco.
Da relva, do lodo,
Da selva, da maluquice dos manicômios dos malucos.
Da venda dos olhos,
Da fenda das falhas,
Das fagulhas.
Das imperfuráveis madeiras brutas,
Parceiras e sócias majoritárias
Do clube de minhas sextas-feiras
Treze.
Da matéria, da antimatéria,
Da arte que pulsa na artéria.
Dos desabafos fantásticos do Sairlomoon:
O ourives.
Do simples ato de escrever
Para anuviar os excessos
Para despistas os ardis
Para decifrar os enigmas
E apagar o incêndio
Que de tão abastado
Reduz a escrita a um mero pano molhado...

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domingo, maio 06, 2007

O POETA


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CARTAS EXTRAVIADAS - PARTE 1

Em carta a João Cabral de Melo Neto, datada de 17 de janeiro de 1942, Drummond escreveu, a propósito da inclusão de um poema de Cabral em uma coletânea a ser publicada:
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"Sou da opinião que tudo deve ser publicado, uma vez que foi escrito. Escrever para si mesmo é narcisismo, ou medo disfarçado em timidez. Sem dúvida todo sujeito honesto escreve por necessidade, mas nessa necessidade está latente a idéia de comunicação. Os outros é que gostem ou não gostem. A reação do público evidentemente interessa, mas não deve impressionar muito o autor. Daqui a 20, 30 anos, que ficará de nossos atuais pontos de vista e juízos críticos? As obras terão que ser examinadas de novo. E então haverá uma importância maior no julgamento, ao qual, provavelmente, não estaremos presentes. Como v. vê, eu acho que se deve publicar tudo, menos pelo valor da experiência do que pela operação de extravasamento da personalidade, de outro modo cativa, e pela tomada de contato com o mundo exterior, que é fértil em sugestões e excitações para o autor. [...] Se lhe desagradar a opinião dos jornais e revistas, não publique para eles, publique para o povo. Mas o povo não lê poesia... Quem disse? Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas. [...] Não devemos desanimar com isso. Desde que estejamos vivos, as experiências se realizarão dentro e fora de nós, e haverá possibilidade de progredirmos na aventura poética. O essencial mesmo é viver e acreditar na força admirável da vida, que é nosso alimento e nosso material de trabalho."


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Em carta de Hugo Lima, destinada à mim, Nelson, datada de 28 de outubro de 2006, o poeta escreve:
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"Tomei as palavras de Drummond como se fossem para mim. Por isso publico, nos meus blogs, todo e qualquer pensamento, toda e qualquer manifestação interior que parta de mim. Confesso, sou narciso, mas tenho uma honestidade poética que me força, quase que esporadicamente, a me submeter ao extravasamento da minha personalidade que, como sabe, não é uma ou outra, são várias [...] Sou a favor da poesia, sempre. E acredito piamente nas idéias de Drummond. Estou de acordo com elas. "Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas" Não quero que meus poemas comuniquem ou façam algum sentido, não escrevo pra explicar. Expresso, apenas. Sou da idéia de que a poesia é um fazer que si basta a si mesmo, que pode sim servir ao homem, mas apenas na medida em que, capturando os padrões de sensibilidade de cada época, seja capaz de manter viva no homem, exatamente a própria poesia enquanto modalidade específica do fazer humano."
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OBS: Quero com este post (tratando, a meu ver, de um assunto de magna importância e discutido de forma tão delicada) marcar a nova direção da CASA que a partir de hoje, será organizada por mim, Nelson Nobu, http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=15221847701048755955, sob recomendações do poeta, aqui homenageado, Hugo Lima.