domingo, dezembro 30, 2007

2oo8!


OBRIGADO!

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"Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!"
(Carlos Drummond de Andrade)

Agradeço à todos aqueles que contribuiram o bastante para que eu pudesse perceber, mais uma vez, os valores essenciais da vida.
Obrigado pelas mãos estendidas, pelos aplausos e pelos sorrisos doados.
Espero, no próximo ano, retribui-los com o mesmo carinho, a mesma leveza e as mesmas alegrias de sempre.

Sorte, saúde, paz, amor, música e poesia para 2oo8!

Tim Tim,
Hugo Lima.


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STARRING.

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Ele é indie, mas reconhece e assume as influências do punk, do folk, do rock, do britpop, do Lo-Fi, do hippie, do samba, do jazz, da bossa nova e até mesmo de movimentos como o tropicalismo, o cubofuturismo, o dadaísmo, o surrealismo, o minimalismo, o concretismo, a digipopart e a artbitch. Eu definiria como um kitschnightboy psicodélico um tanto quanto diabolique! Há quem diga que ele chega a ser inovador sem deixar de ser clássico, outros apostam numa pseudoloucura crônica. Entretanto, trata-se de um simples poeta pós-moderno que transita entre a alta costura underground e poesia contemporânea. É fascinado por cores, fala inglês e espanhol, adora pão-de-queijo, curte Björk, Cibelle, João Gilberto, Laika, Massive Attack e o mais vasto universo da boa música. É comum encontrá-lo pelos cafés de Belo Horizonte, movimentada cidade do oeste europeu de Minas Gerais onde vive numa enorme casa pintada de amarelo. É zen-hindu, medita, gosta de incenso e prefere alimentos secos, integrais e desidratados. Não dispensa boas taças de champagne, mas está muito bem servido com chás de morango ou sucos naturais. Sobre moda, arte que pesquisa intensamente desde os 13 anos, diz que sua inspiração vem do pside, do cyber, do punk, do folk, do clown e do conceito de estilistas como Reinaldo Lourenço, Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura, Viktor & Rolf, McQueen, Donna Karan, Victor Charlier, João Pimenta, Paulo Carvas, entre outros. Seu visual é essencialmente psidepunk, um pouco esquisito, mas altamente sofisticado, com muito movimento, descontração, buttons e acessórios coloridos. “Sei que sou extravagante e não me importo em parecer blasé. Moda é se sentir bem, não viver de grife!” – esclarece. É ascético, divertidíssimo, tem bom senso, não abre mão de boa educação e está entre os mais elegantes que eu conheço, sempre esbanjando sensualidade e simpatia. Causar emoção, reorganizar as coisas, traduzir o intraduzível, fotografar o instante, registrar o inexistente, dar cores à rotina acizentada do cotidiano são algumas das tarefas diárias deste poeta que, apesar de possuir uma escrita muito delicada e pontuada pelo abstracionismo filosófico, garante que sua poesia não quer responder, mas sim, indagar ainda mais o caminhante apressado que se perde pela multidão da cidade grande. Seus versos acontecem o tempo todo, do lado de dentro ou de fora da gente. Estudante de Letras, pretende se especializar em poéticas contemporâneas. É viciado em livros, desenha, rabisca, fotografa, inventa, decora, colore, recorta, recicla, canta e faz música moderna brasileira. É dono de uma das vozes mais etéreas que já ouvi, já cantou acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Palácio das Artes e, em 2003, colaborou na organização de duas exposições minhas em parceria com o crítico de arte e também poeta, Erthal Terra. Atualmente, publica seus trabalhos na Casa Sana e escreve para os sites da poeta, atriz e estilista, Larissa Mighin, e do publicitário Igor Amin. Para 2oo8, pretende dar continuidade aos estudos, ampliar a Casa Sana e criar projetos artísticos.

Por Gustavo Malheiros. 1º novembro de 2oo07. Londres, Inglaterra.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

DE NATAL

_
Merry
Merry
Merry
Christmas
From
Myself
_

terça-feira, dezembro 18, 2007

GESTALT

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Aos poucos vou-me
fazendo parte de um todo.
Vou-me partindo
quebradiço que sou
para que, pelas metades,
possa me constituir por inteiro.

Aos poucos vou-me
repartindo
distribuindo-me aos pedaços
desmembrando parte por parte
para que, em fragmentos,
possa insinuar completude.

Aos poucos vou-me
desfazendo
cortando meus dobrados
destroçando minha carne
para que, em partes,
eu disfarce
e minha nudez
e a minha loucura.

Aos poucos vou-me
pouco a pouco,
parte a parte,
ponto a ponto...

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O INCESTO AUTOFÁGICO - Part. 1

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se esgota numa gota
sobre mim
vaidades
que de me olhar
me abstenho
como que se desejasse
a mim mesmo
uma parte do meu corpo

e se pouco declamo
era o dito
uma palavra que se entranha na boca.
bom senso
sem teor algum
e penso:

talvez fosse melhor não pensar
no desejo
é tudo aquilo que arde na boca
a minha vontade (de não provocar)
o incesto.

primeiro, corto a lingua e observo:
sou o mínimo das virtudes do desejo
ALMA - ou outra forma de corpo.

para deglutir os restos
basta um pouco da dura promessa
de um vício tempestuoso.

- AAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!

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quarta-feira, dezembro 12, 2007

RESOLUÇÃO¹

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o afeto é a arte de se envolver
com a alma.
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OFÍCIO

escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo
escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo escrevo

ADDRESS


segunda-feira, outubro 22, 2007

TRECHO

escrevo desde pequeno. escrevo compulsivamente. preferencialmente à noite, com a ajuda de um colírio "Lirim" para enxergar melhor. escrevo para sobreviver. escrevo para mim mesmo, ao léu, sobre lembranças do dia, sobre pessoas que não sei mais o nome. meu livro de cabeceira é a biografia de Paracélcius - médico suíço, alquimista que não buscava ouro, mas remédios e que morreu ao ingerir o elixir da longa juventude, tão almejado, finalmente descoberto.

COISAS ERRADAS QUE PAULO ESCREVEU

CORÍNTIOS 11:14 - A natureza vos ensina que é desonra para um homem ter cabelo comprido.

EU RESPONDO: Jesus Cristo é cabeludo!

CORÍNTIOS 14:34 - Que as mulheres fiquem caladas nas assembléias, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz a lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos, em casa.

EU RESPONDO: Não é proibido falar!

CORÍNTIOS 11:09 - O homem não foi criado para a mulher, mas a mulher foi criada para o homem.

EU RESPONDO: A pessoa tem que ser livre!

CORÍNTIOS 11:03 - Quero que saibas que Cristo é a cabeça de todo homem e o homem é a cabeça da mulher e Deus é a cabeça de Cristo.

EU RESPONDO: Deus é a cabeça da mulher também!

segunda-feira, outubro 15, 2007

dO PoEtA


4x4

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vivo leve e amo solto
sou de tão cruas delicadezas
de tão simples palavras
gosto de inverno e de livros
de janelas abertas, bem abertas
sou daqueles que experimentam a vida
que tocam a arte com a alma da mão
sei que às vezes sou triste
(e gosto de ser melancólico)
de admirar dias nublados, espaços vazios e ruídos da chuva,
mas também gosto de azul
de orquídeas e de sol.
adoro fotografias e cheiro de mar
e um pouco de mim
é também um pouco do céu
e do silêncio noturno.
gosto daquilo que de tão simples
é de se amar: como a casa em que me visto
e a poesia que me escrevo.
gosto do mês de abril quando,
mesmo despedaçado,
traz a saudade de um velho amor.
falo pouco, mas revelo muito através dos olhos
que, apesar de castanhos, têm espessa claridade.
gosto de gente que se desprende,
de atores e atrizes,
bailarinos e poetas
e pintores e palhaços e arquitetos...
(e de gente sem limites pra encantar).
invento moda com meus badulaques e balangandãs.
gosto de cores, arco-íris e fovismo,
de objetos em acrílico, fibra, plástico, vidro e borracha.
gosto dos recicláveis!
não tenho tempo para os que pensam
que a vida passa sem que precisemos nos renovar.
não tenho tempo para os que pensam
que a vida passa sem que precisemos sair do lugar
porque eu gosto é do movimento,
(e dos ousados!)
dos corpos em transe,
da dança e do trânsito,
das voltas do mundo.
eu gosto é da música tocando no fundo,
trilhando a vida,
embalando os sonhos, cruzando caminhos.
eu gosto do encontro de dois,
do instante à sós, do desejo,
da língua entre os dedos, do vermelho,
do barulhinho bom que a gente faz no ato do amor,
da entrega de corpo e alma,
do suor do outro, do perfume, do incenso,
da meia-luz,
do sorriso após o gozo, do abraço
e do banho.
gosto do carinho natural que parte de mim para o outro
e vem do outro como doação.
(eu gosto é dos intensos!)
eu não lamento passados nem dou asas ao futuro
planos eu faço com barquinhos de papel
eu materializo o carpe diem
porque o agora é o agora e sempre.
eu não sou pessimista nem sonho demais
eu só acho que a vida simples faz muito mais sentido
sem brigas e pré-conceitos e tantos vícios mesquinhos
e acredito que ser elegante é ser natural
(não ser comercial, mas bem-estar-bem!)
porque o silêncio dói muito mais do que um tapa
e a indiferença já salvou muitas vidas.
eu gosto é de cuidar dos amigos
e conhecer gente nova e diferente
que é pra provar que há sempre um "por vir"
e um conceito novo a se ter,
romper barreiras e trocar idéias sobre o bom e o mau gosto.
eu gosto de filmes pacatos
(franceses, de preferência!)
de vidinhas bucólicas em ambientes urbanos.
gosto de curvas e antenas e paralelepípedos
elevadores e avenidas e prédios e praças
e bares e pubs e cafés e lounges e montanhas
e do belo horizonte das minhas Minas Gerais.
gosto de plantas, de árvores, de sombra, de mar, de pássaros
e dos meus pés.
eu gosto da cama e do meu quarto e dos meus discos
e cds e do computador e das paredes e da minha máquina de escrever
e das cartas que recebo e respondo com prazer
e do cigarro queimando enquanto penso nas palavras
e da inspiração que me perturba de vez em quando
e dos desejos que me tiram o sono...
gosto da manhã
(do amanhecer, exatamente)
e da tarde
e à noite eu me liberto.
eu sempre acho que um grande amor ainda vai me arrebatar
e que vamos ao cinema juntos, num domingo, e tomar sorvete
e brincar com a pipoca e dizer que foi tudo lindo antes mesmo de acabar
mas sem esse negócio de contos de fada e vida de filme.
eu me apaixono fácil e sou essencialmente romântico,
mas eu preservo a individualidade,
gosto do que é particular,
gosto de vidas entrelaçadas pelo amor
mas independentes pela razão.
eu não tomo conta, eu cuido
e não gosto dos ciumentos, mas sim, dos que me prezam.
ciúme é acúmulo de dúvida e incerteza de si mesmo.
ciúme é o mal do amor.
por isso, vivo leve e amo solto,
deixo ser e estar, deixo o tempo passar a seu tempo
sem pressa, sem medo, sem dúvidas.
tem dias que acordo com o mundo virado,
com ódio dos humanos e com pavor de mim,
tem dias que me levanto querendo ser um caramujo
e gosto que me deixem assim, recolhido,
porque é nesses dias que eu realmente me olho no espelho.
mas eu sou bem leve e azul
e gosto de sorrisos.
também sou tímido e reservado,
mas sei tocar trombeta e botar a boca no trombone
e gosto de samba,
de mãos e de pés e de olhos e de nucas
e de nervos expostos
e de estórias escritas com fatos
e termino com os versos de um poema catalão que diz:
"oh, sobretudo amo a sagradavida e o murmúrio do vento
nos galhos que se alçam em direção à luz!"


*Proclamado por Hugo Lima no Café do Palácio no dia 13 de outubro, gravado em mp3 por Nina Ruiz Wëg e taquigrafado por Nelson Nobu.

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TODA A LEVEZA DO CÉU


segunda-feira, outubro 01, 2007

AgENdA


02/10
18h30 Jardins internos do Palácio das Artes
Projeto Terças Poéticas [Entrada franca]
Poetas Evaldo Leoni, Ivana Andrés e Luciano Luppi
& Homenagem Fernando Pessoa
05/10
23h Confessionário Lounge Café
Av. Bernardo Monteiro, 1.453 - Funcinários [$10]
"Além do que se vê - Viva o Surreal!"
06/10
16h Palácio das Artes
Galeria Alberto da Veiga Guignard [Entrada franca]
Exposição "Poesia Concreta - O Projeto Verbivocovisual"
17h
Cine Humberto Mauro [$5 - $2,50(meia)]
Mostra de Cinema Indie Mundial
09/10
17h Palácio das Artes
Espaço Mari'Stella Tristão [Entrada franca]
Exposição "Ô de dentro, ô de fora" - Diversas Linguagens
19h
Espaço Mari'Stella Tristão [Entrada Franca]
Bate-papo e lançamento do catálogo
com a presença do escritor Ronaldo Guimarães
20/10
16h Cine Humberto Mauro [$5 - $2,50 (meia)]
Mostra Inéditos em BH (Filmes em 35MM)
20h
Mostra de Cinema Espanhol Atual 2007
22/10
19h Palácio das Artes
Cine Humberto Mauro [Entrada franca]
Cineclube CurtaCircuito
24/10
19h Palácio das Artes
Cine Humberto Mauro [Entrada franca]
Mostravídeo Itaú Cultural
27/10
20h Palácio das Artes
Cine Humberto Mauro [Entrada franca]
Imagem e Pensamento
28/10
18h Não divulgado
PONTO DE ENCONTRO
Café do Palácio (de 30 a 40 minutos antes de cada evento).
*Todos os eventos ocorridos no Palácio das Artes seguem as datas, os horários e os preços publicados na programação da Fundação Clóvis Salgado e podem sofrer alterações
*** E eu não me responsonsabilizo pelas mesmas.***

sábado, setembro 29, 2007

dO Poeta


.de escrever.
.

AUSÊNCIA DE MIM

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desejo estar distante
mais longe dos meus pensamentos
exilado de tudo o que me condiciona
não quero mais me corresponder com as palavras
não quero mais a mesma fuga, não quero mais a mesma dor
mas quero outra vez a mesma saída
o mesmo exílio da alma
o mesmo descanso de sempre
serão inúteis todas as outras palavras
serão inúteis todos os seus gestos
todos os meus apelos não vão me libertar
mantenho a idéia fixa de me fixar
no menor ponto de mim
e ali me guardar
concêntrico
mas não a morte, contudo
só o silêncio, só o escapar de mim
só o me guardar
só a mesma solidão
e a tristeza ao meu redor
só o mesmo quarto frio
as mesmas páginas, o mesmo vinho
e a caneta a deslizar meus sentimentos


***poema escrito em meados de 2004.

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CONSTELAÇÃOdoCÉUdaBOCA

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arqui-
pé-
lago-
de luz mascável

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ATE NU AR

.
ATE
NU
AR
ATE
NO
AR
.

terça-feira, setembro 25, 2007

POR NELSON NOBU

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CYBERPOET, LITERALMENTE FALANDO...
*Por Nelson Nobu

Hugo Lima é o mais novo integrante do site CIBEREXPRESSANDO, criado pelo publicitário Igor Amin. Além da Casa Sana, seu blog oficial, e do "O(lh)ares ao Co(r)po", onde escreve ao lado de poetas como Larissa Minghin, Roberto Leonan, Jonas Rocha, Paula Gicovate, CJ, Ricardo Siqueira, entre outros, Hugo ingressa agora num espaço reservado à expressão multimidiática onde a sua poesia interage ciberneticamente com diversos outros contextos verbivocovisuais. Em seu texto de estréia, SELF-PORTRAIT, ele faz uma reconstrução de "Auto-Retrato", uma espécie de 4x4 escrito em meados de 2006. Um verdadeiro cartão de visitas literário que marca, "em bons tons", mais um grande momento na vida de um dos mais novos autores da poesia contemporânea. Vale a pena conferir!

Leia também:

O(LH)ARES AO CO(R)PO
COMUNIDADE "O POETA"

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segunda-feira, setembro 24, 2007

AOS TEUS

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tarde
que se põe
entre os
dedos

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ERRÂNCIAS

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Sob um céu de lona
traço
um retrato do amor quando jovem.

Poesia. Pois é, poesia.
De Décio
ao Pignatari azul,
na contracomunicação de
vocogramas.

Entre medula e osso,
a geléia geral.

(Arrisco um risco de
Schoemberg.)

Ainda resta, no resto da tarde,
o rosto da memória.

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sexta-feira, setembro 14, 2007

dO PoEta


::: pausa pr'um café :::


photo by Hugo Lima

segunda-feira, setembro 10, 2007

A PAISAGEM

OU
OUTRA FORMA DE CORPO
OU
TRADUÇÃO DE UM SONHO EMPÍRICO

[Todas estas palavras me foram ditas num sonho]


Sou como o caracól que pousa nos olhos da planta
ou como a arquitetura da casa que é o meu corpo.

Sou como o ventre da tadre, as mãos do amanhã
os pés da noite-madrugada que persegue o meu sono.
Eu sou o silêncio ensurdecedor do desejo.

Sou o canto de um pássaro, uma phoenix de asas douradas.
Sou só mais uma porção de mar, um grão de areia,
os braços de um rio que abraça o oceano.
A textura dos meus dedos é o adeus pontilhado na sutileza dos meus gestos.

Cada vão de mim é um céu aberto, um vôo de asa-delta
pelo ar dos meus sonhos.
Um florão no meu peito
que enfeita o teto da casa de pedra-pomes.
Tenho pés-de-vento, capim dourado nos cabelos,
pedaço de brisa no olhar, que é triste, senão, azul
tão cinza como o mar vermelho.

Tenho cores na alma e estados de espírito.
Virtuoso colírio de alcançar nos meus olhos
o brilho das elétricas folhas secas
que caem aos pés do outono.

Tenho a leveza dos muitos dizeres,
o ruído das conchas, o assoprar das ondas,
o canto das sereias,
a palma da alma da mão,
o desvão do Éden, o edema de mar,
acúmulo de dias líquidos, chovoso delírio
de umedecer a terra com absinto.

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domingo, setembro 02, 2007

CARTA EXTRAVIADA

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Jaboatão dos Guararapes, Brasil - Pernambuco / Nordeste


Dia 1 de agosto do 2007

Caríssimo amigo Hugo,


Estou ritmado agora. Curtindo o beat. Sacando o groove. Indo na vibe. Sem jazz, sem folk, sem blues. Estou todo Belo Horizontado. Fragando a sensação. Hu gosto musical de Hugo Lima lima o resto do mundo agora. Estou sambando ouvindo os carros, bebendo sobre as motos, indo para a boate de ambulância (com sirenes ligadas!).

Estou todo vivendo. Em constante “não-parança”. Estou todo movido, mobilizado, lido, relido, feito traça em papel amarelado comendo o “m” da palavra. Estou te ouvindo, bailando com sua persona musical, sentindo os ritmos da sua alma. Não sou homem de detalhes (mentira) então vou sentir você na massa sonora do todo para saber quem você é (e isso talvez não seja mentira).

Estou todo abismado. Sofri uma queda em um abismo. Adentrei o vale da vida, no vão dos que estão vivendo muito, tenho me dado bem aqui.

Há sempre saudade do que já foi vivido, é bem verdade. A isso eu chamo história. História se escreve com algumas letras, portanto cartas. Cartas são diálogos costurados por monólogos, portanto atores, portanto autores. É necessária alguma direção para tudo isso, portanto comandantes do navio das vidas, portanto diretores. Para não haver sóbria e mórbida rotina é preciso alguma graça, portanto artistas, portanto brasileiros. Há que haver também algo mais que ação e reação, portanto humanos, portanto bichos homem. Há que haver um grande motivo para nos correspondermos, portanto amigos, portanto confidentes.

Te acho capaz de criar vidas, dar vida a vãos interiores genuínos ligados pelo traço da sua poesia. Você é também um rapaz abismado, Hugo, só não sei como se relaciona com os vales da vida por onde passa. Isso não importa, de fato.

Às vezes sinto você como um canal de luz que veio ao mundo trazer alguma grande mensagem. O problema é que todo bicho humano tem que carregar o tal fardo da humanidade e todas as suas necessidades. Às vezes é difícil a beça lidar com essa pequena grande variável.

Talvez seja assim com os poetas, com os artistas, com todos que trazem traços do criador. Afinal, toda criação tem um “que” de humano, toda criação tem um “que” de divino. Cabe a nós permear essa existência com busca, com alguma dúvida eterna e então aceitar o que vier.

Vamos aprender com o sertão e os pássaros. Deixemos o resto ao som do silêncio ou de alguma música. Que a vida seja uma ópera rock ou uma singela canção. Que tenha sempre um solo de clarineta. Que quando chorar, eu soe um trompete e, quando delirar, soe uma harpa.

Sou sempre próximo, Hugo, mesmo quando pareço distante. É que eu estou sempre indo, difícil é saber quando vou chegar.


Abraços fraternos,

Fred FurtadO.

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terça-feira, agosto 14, 2007

DO POETA


.Mesa de escrever.
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ME OFEREÇO

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Adoro prazeres
Sei andar de bicicleta
Giro discos de vinil
Gosto de jazz
Escrevo amores no muro
Me finjo de bobo
Bebo água da chuva
Conto estrelas
Reinvento amores
Faço das tripas coração
Invento tardes poéticas
Enfeito cartas floridas
Coleciono livros
Confeito madeleines
Me lambuzo em chantili
Guardo chaves no tempo
Desenho risadas avulsas
Bordo borboletas
Costuro poemas
Recrio paisagens
Faço yoga
Fotografo dias cinzentos
Faço promessas ao pé do ouvido
Às vezes acordo nublado
Durmo de concha
Desejo noites em claro
Lustro desejos e
Transpiro madrugadas em silêncio.

Eu me ofereço pela metade do preço.

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SOBRE NÓS

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há muitos segredos...

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terça-feira, agosto 07, 2007

...

.

Visto-me com as estrofes de um poema sujo
Abotôo seus botões de versos
(e) ajeito frases e dizeres.
Calço as rimas e dou um nó.
Caminho palavras pela noite escura.

No bolso esquerdo, minha cultura posta em questão,
No céu da boca, a poesia em pânico,
Na ponta da língua, presságios do meu desejo,
Na ponta dos dedos, o sentimento do mundo,
Presos na garganta, poemas malditos, gozosos e devotos
E na palma das mãos, minhas primeiras estórias.

Com meus olhos de cão, enxergo além da vida
Uma passagem do tempo – transcendental e metafísica.
O caminho para a distância que se abre dentro da noite veloz
É apenas uma vertigem, uma transmutação do medo.

Sou um cão sem plumas, educado pela psicologia da composição.
Vivo a vida passada a limpo no eterno brilho de um retrato natural.
Perto do coração selvagem, guardo os desastres do amor, os subterrâneos da liberdade e as impurezas do branco.

Caminho perdido no meio do caminho
Como quem quer e não quer encontrar uma lição de coisas
Coisas que não sei o nome, coisas de um segredo oculto,
Coisas que não dizem nada, coisas que me dizem tudo.
Caminho em ritmo dissoluto. Só, triste, confuso...

Há uma gota de sangue em cada poema
Que escrevo com as palavras que caminho.
Abotôo meus versos como se perdesse a vida
Caminhando distraído pela noite escura.

Nas cinzas das horas, meu coração e meus passos
Sussurram aos meus ouvidos:
- Distraídos venceremos!

E aqui, a história se acaba
aqui, eis o fim de tudo
aqui, eis o fim que se foi
E me dispo.
[...]

.

TRANSITISMO

.

transição
transitório
transito
transmito
transmuto
transcrevo
transfiro / sentimentos
traduzo / sensações
translúcido
/ dentro do meu transsentir.
transcorro minha vida
minha lida, lida dor
dor lida
transcrita em papéis de translhetins.
De mim, saem transeuntes
transcendentes
transcendentais
transfundidos
transigentes
trasmissíveis
/ pensamento transitário
/ transmatriz.
a eloqüência / a alusão
a elucidação do meu contrário
translatário
transformação
transmaginário
trans-unção
transfusão
.......................
transitor,
transminto
transitismos
ao suportar a transição
do meu ser transitório.

.

CORRESPONDÊNCIAS

.

correspondências
correspondentes
correspondances
correspondences
correspondencia

cartas avulsas
avessas
avencas

alforria literária:
"cartas também são gestos poéticos."

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DELICATEZ

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"afoguei-me
mar adentro
de mim"
enquanto espero tardes de sol
você se delicia com a chuva
você faz de conta que não percebe
que a vida é um romance
e eu, no meu canto, sempre aflito
espero uma palavra, um gesto, algum sinal.
você não dorme (e eu desejo)
você não beija (e eu espero)
A gente sempre caminhando por caminhos opostos:
eu sem você - esta página em branco
você sem mim - nossa história sem enredo,
sem início, sem meio, sem fim.
.

QUANDO O AMOR DÁ ERRADO


PREÂMBULO

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ser pele
ser amor
ser leve

amar, apenas.

deixar-se por si só
e ser.

.

SER-TÃO

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O ser-tão dos sertões
rosa, guimarães
redemoinho dos ventos
sussurruídos e retrovões
veredas, descaminhos
fabulações das passagens.

- Nonada. Tiros que o senhor ouviu
foram das travessias disparadas.

o Sertão está em todo lugar!

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DEITE-SE AO MEU LADO

.

.


Deite suas noites no meu colo
e deixe-se amanhecer com meus abraços
esqueça-se no leve delírios dos meus pensamentos
e durma, com meus olhos, a paisagem do silêncio.


.

N.Y.

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para Gus Braga e Nina Ruiz, amantes iorquinos de N.Y.C.


Comun-ic-ação entre
sirenes
buzinas
semáforos
olhares
gestos e
sinais

entre
hellos
e goodbyes.

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AL QUÍMICO

.

Proust não sabe
mas, eu também me isolei.

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terça-feira, julho 31, 2007

MUDANÇA

.
para minha querida Vera Casa Nova

Vera está de Casa Nova.
Mudou de princípios, de meios e de fins.
Só não mudou de si mesma
(nem de seus poemas).
.

NOITE

.

grão de coisa
lua
escarlate
noite
que brilha
dentro
de mim
vida
que nasce
corpo
que move
criança
que chora
com saudades
da mãe
poeta
que sofre
poema
que escreve
dia que não
amanhece
noite. só noite.
escuridão.
velas-não-se
coisa
lugar pra se guardar
lembrança
meia-noite
lua cheia
alguma coisa
dita regras
vai o morro
cavar o mundo
mundo grande
descoberta
vasto mundo
universal
raimundo
solução
edificar
é de ficar
no tempo
noite. só noite.
escuridão.
peças frias
pele morta
nausear
precisar
loucura
sangue que
escorre
gente que
passa
olho que

a vida
passada
passar
não acode
nem avisa
aterriza
aterrizar
noite. só noite.
escuridão.
silêncio
mudo
um poema
nas mãos
é meu nome
completo
Hugo
leve
nuvem
dentro
ele não enxerga
ele não escreve
ele não me encanta
canta não canta
encanta
um canto breve
ele vê
e (se observe)
no tempo
ele escreve
ele espera
dia após o outro
volta
revolta
retorna
e torna a
enlouquecer
brisa
enfim
amanhece
aparece
umedece
enlouquece
em silêncio
..................
tarde lilás
telhado amarelo
azul anil
noite. só noite.
escuridão.

.

CIDADE GRANDE

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Casas entre arranha-céus.
O dia passa depressa.
Um homem vai correndo
(o táxi também).

Depressa, meu corpo levita.

Eta vida vesga, meu Deus!

.

TRAVESSIA

.



Eu li, no final de um livro,
o início de um novo tempo:
Era o Ser-Tão.

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CORPO EM TRANSE(TO)

.

para Linsadora Sttérferson, minha querida.


Um homem nas palavras
atos, círculos, formas
Um homem no tempo
no interior de si mesmo
Um homem nas esquinas
de uma cidade que o ultrapassa
Um homem no trânsito
no corpo de sua formação

Um homem na espera
nas janelas da alma
Um homem nas saídas
partidas e chegadas
Um homem em movimento
nos transes do espírito
Um homem iluminado
Não é deus, não é buda
nem é santo

é apenas Um homem
sem passado, sem presente, sem futuro.

.

CET APRÈS-MIDI

.

IMAGES ET IMAGES
TRONÇONNEZ LE VERRE DANS L'ÉTAGÈRE
LE PASSAGE DE LA VIE
ET PRESQUE TOUT HOURS DE LA PLACE.
LES HEURES N'ÉTEIGNENT PAS LES JOURS
MAIS ILS AINDENT POUR OUBLIER LE TEMPS.

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DURAÇÃO

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te repito:
era assim o gosto
da tua carne nua
branda
macia
quase crua
teu sabor de pele
teu gosto de sol
ardendo em minha boca.
teus olhos castanhos
tua cor, tua vulva
tua intensa loucura
delirante,
teu "despejar-se" sobre mim...
Sim, te repito:
e no gozo da alma em transe
o prazer de estar só
e só
no silêncio dos amantes.
te repito
te rapto
te abandono

te abduzo.

.

SLASH GLASS

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Seus óculos escuros
não são Dolce, meu bem
são Vitta.

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DE UM LIVRO

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Nietzche inventou as origens do sujeito fractal
no ciberespaço e na metafísica da subjetividade.
A desintegração do objeto na era do pensamento
é comun-ic-acional.

Na sociabilidade virtual, o subjetivismo moderno
ultrapassa
a informática da comunicação.

epílogo:
semióticos prólogos
protótipos poemas
(corações) e índices.

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ABAPORU

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Abaporu-homem
selvagem antropógago
idéia da terra
imagem do santo
ex-voto moderno.
Abaporu-homem
homem-que-come
homem da arte
imagem do quadro
que paira no tempo.
Abaporu-homem
enormes pés plantados
no brasileiro do chão.
Há de brotar um movimento,
um cacto, um sol.
Abaporu-homem
homem da face-semente
homem do pau-brasil
"o homem do Amaral
pintado a azul anil."
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quinta-feira, julho 26, 2007

TERÇA

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para Ana Cristina César.


terça frase. terça razão.
terça metade de um todo.
terça semana. terça ação.
terça resposta.
terça diária. terça ilusão.
terça imagem exposta.
terça arte. terça à tarde.
terça cor. terça.
febres terçãs e palavras
com seus quartos sentidos.

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ESPERA

.

Anoiteceu e
até agora
nenhuma palavra foi dita.
Ele segurou minhas mãos,
olhou-me nos olhos,
deitou-se no meu colo,
acariciou os meus cabelos,
balbuciou alguns poemas,
até tocou alguns discos
e eu, pelo visto,
dancei com o seu silêncio.

.

SOMOS SAPOS

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Tolos que somos,
e não somos primeiros,
compreendamos:
a grande arte é como
o Louvre de joelhos!

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VÔO-LIVRE

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para escrever em linhas tortas:
ser Deus (de papel)
.corpo

dinamizantes sentidos
opostos-se atraem
palavras
de um dicionário [lúdico]

eu me denomino
a bo mi no
/ e exociso
o "SER"

para escrever na diagonal:
m e t a f í s i c a.

coisas sem-nome (pelo avesso)
poemas descritos
linhas retas, curvas, turvas
.sentimentos

desejos
que vão saltar
l
i
g
e
i
r
a
m
e
n
t
e
do 100° andar
de mim.

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EM QUANTOS?

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para Eloísa Heisenberg.


92795 2 2235 2
520 0 0 652
301 3 0 862
1699 1987 1/02
1699 522 653
6345 22 670951 0
6.

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CYBERNÉTICA

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A carne está obsoleta.
A partir de agora sou
proto-humanista.
apeiron?

nec plus.
ultra(?)

Quais são os desejos de um
cyborg?
Os mais íntimos?
E os mais intensos?

Videota (couch potato)
Introdrogado (information junkie)

tecnófilos, on.
tecnófobos, out!

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APARÊNCIAS

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isto não é isto
nem aquilo
é este

e este não é este
nem aquele
é esta

e esta não é esta
nem aquela
é nesse

e nesse não é nesse
nem naquele
é nela

e nela não é nela
nem nele
é em mim

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EXPIRAÇÃO

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Si, quase, guspe
Clã do jabuti
Remate de males

A poesia que não é
A frase que não diz
O movimento que não faz
Macunaíma - A paulicéia desvairada

São Paulo! Comoção da minha vida
Uma face do meu verso
que até pensei não existir...

Um pouco do sangue deste tempo
é a hemorragia de uma era
era Abapuru, tristíssimo
em seu quadro, quieto
feito de terra

.....................
.....................

Si, quase, guspe
Clã do jabuti
Remate de males

Não quero dizer nada
porque a poesia não é
a frase não diz
o movimento não faz
e eu não sou poeta.

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quinta-feira, julho 19, 2007

RESPOSTA

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para Nelson Nobu


Minha poesia?
Ah, minha pobre poesia...
Tão trêmula em seus contornos,
tão simples e tão frágil,
tão assim, tão assada,
tão crua de si mesma.

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sexta-feira, junho 29, 2007

METRÓPOLIS

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trânsito em transe
tensão nos sinais
velozes e vermelhos
- semáforos:

tráfego
transito entre as trapaças
dos tensos veículos
- canais:

faixas e pedestres
códigos e bandeiras
óxidos e monóxidos
- quatro tempos:

sirenes e trincheiras
túneis e avenidas
estações - e ruídos
infernais:

metrópolis.

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terça-feira, maio 29, 2007

DIVERSIDADE CULTURAL

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A reinvenção dos conceitos de Cultura
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A convite do professor e antropólogo José Márcio de Barros, participei das mesas redondas do “Seminário Diversidade Cultural – Educação, Desenvolvimento Humano e Desdobramentos” que aconteceu nos dias 21 (Dia Mundial da Diversidade Cultural) 24, 25 e 28 de maio, no Palácio das Artes.
O Evento foi realizado pela Diretoria de Arte e Cultura da PUC-Minas, pelo Ministério da Cultura, através da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural e pelo SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão. A USIMINAS, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e a FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais patrocinaram o seminário que foi realizado em parceria com a Fundação Clóvis Salgado e com a ONG GERM - Grupo de Estudos Sobre as Globalizações. Além disso, houve o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e da Embaixada do Canadá – primeiro país a adotar a política de multiculturalismo do mundo – representada pelo embaixador Guillermo Rishchnski.
O objetivo destes debates, segundo o seu organizador, é o de ampliar a reflexão sobre as relações entre a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Além disso, propõe promover o conhecimento e criar competências para o trabalho com a diversidade cultural, desenvolvendo perspectivas metodológicas de atuação com o pluralismo cultural.
Participaram do evento especialistas no assunto como a representante da UNESCO, Jurema Machado, que abriu as discussões questionando a efetividade dos projetos. Para isto, foi criada uma convenção, por ser um instrumento jurídico internacional que garante a soberania dos países integrantes, no que diz respeito às políticas culturais, e por ser o meio mais forte de tratar da promoção e da proteção da diversidade cultural, uma vez que esse instrumento gera direitos e obrigações. Cinqüenta e sete paises já estão integrados à convenção sendo a Costa do Marfim o ultimo país a integrá-la. Jurema também propôs a melhora da qualidade das informações na área e a difusão das idéias debatidas no seminário através da televisão, do rádio e da Internet, veículos mais acessíveis sociedade contemporânea.
Giselle Dupin, representante da FUNARTE e do MinC, destacou a criação da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, em Brasília, que é, até então, a única secretaria que promove e protege a diversidade de culturas do mundo. Essa secretaria visa democratizar o acesso às políticas culturais, viabilizando a comunicação entre as comunidades e o governo. Para isto, foram criados projetos como o “Prêmio Culturas Indígenas” que prestigiou iniciativas de promoção e proteção da diversidade cultural indígena, valorizando as línguas nativas, resgatando a culinária, as práticas religiosas, o artesanato, entre outros. Com essa premiação, foram contemplados 52 projetos com R$ 15.000,00, cada um, para incentivar e dar continuidade aos trabalhos. Nesse mesmo sentido, falou também o professor, antropólogo e representante da comunidade indígena Baniwa, Gersen Luciano Baniwa, sobre alguns pontos importantes para a valorização das culturas nativas como, por exemplo, a educação intercultural, as políticas de valorização das culturas indígenas, o intercâmbio entre escolas indígenas e não-indígenas, a produção de livros didáticos baseados nas temáticas indígenas, entre outros. Discutiu-se também o reconhecimento de outras línguas oficiais como o tupi-guarani.
Os afrodecendentes, os povos ciganos, os moradores do Vale do Jequitinhonha, os moradores da Juréia, os catadores de siri, dentre outras comunidades tradicionais, também contam com programas como a Fundação de Promoção e Proteção da Diversidade Cultural dos Afrodecendentes, a Fundação Cultural Palmares, etc. Os homossexuais também têm a sua identidade protegida pela Campanha Nacional de Proteção à Cultura GLBT.
O Secretário Sérgio Mamberti, representante do MinC, atentou para as leis de incentivo com representações em todas as regiões do país na tentativa de descentralizar os projetos, e para os 600 pontos de cultura que fornecem, com fundos do governo, condições para a continuidade e o aprofundamento desses projetos. No âmbito mundial, há várias intervenções do Brasil como o “Ano do Brasil na França”, as participações do país na Copa e nos jogos olímpicos, os centros culturais brasileiros em Miami e em outros lugares do mundo, entre outras.
Um ponto bastante discutido foi o que diz respeito à criação da OEA (Organização dos Estados Americanos) que, através de seminários, visa disseminar, nos países que não participam da convenção, idéias que promovam e protejam suas diversidades culturais. É importante destacar que os Estados Unidos não integra a convenção e a sua não-participação é polêmica.
O doutor Márcio Antônio Salvato, economista do IDHs – Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável – que participou da mesa no dia 25, fez um paralelo entre cultura, desenvolvimento humano e economia e, através de gráficos, apresentou uma espécie de “mensuração” da Cultura no ponto de vista econômico, mas sem falar especificamente em números. Um dos pontos mais importantes que o economista levantou para o desenvolvimento humano e social no que diz respeito à Cultura é ampliar as “escolhas” dos indivíduos. Existem 4 componentes essenciais no paradigma do desenvolvimento humano: eqüidade, sustentabilidade, produtividade e empoderamento. Quanto à pobreza, percebe-se uma reavaliação do conceito reconhecendo as variações do termo. O que é pobreza para quem mora no Rio de Janeiro, por exemplo, pode não ser para que vive em Manaus, e a cultura está intrinsecamente ligada a essa questão.
A antropóloga Tânia Dauster, professora da PUC-Rio, fez o relato de uma pesquisa em torno da presença das classes menos favorecidas (negros, pobres, etc.) na Universidade, mencionou a construção de um novo ator social - o estudante de baixa renda que enfrenta inúmeros desafios na busca pelo alcance de seus objetivos, e a construção de redes de solidariedade pelos programas de pré-vestibulares comunitários. A professora nos contou também que há muitas formas sutis de exclusão dentro da Universidade (algumas vezes, por parte dos próprios professores) e isso acarreta, entre outras conseqüências, na construção das fronteiras simbólicas, onde certos alunos (geralmente, os menos favorecidos) se sentem melhor em determinados ambientes do que em outros e, na verdade, todo o espaço acadêmico deve ser de e para todos.
A professora da UFMG, Nilma Lino Gomes, pós-Doutora em antropologia urbana, encerrou as discussões, no dia 28, em altíssimo nível de fluência e qualidade, debatendo o segmento negro da população e a diversidade étnico-social, além de apresentar uma coletânea da produção crítica dos negros no Brasil e apontar os grupos de intelectuais negros.
É importante ressaltar que Cultura não é só arte: são valores, posturas, hábitos, lugares, conhecimentos, técnicas, identidades comuns e diversas, conceitos, saberes e fazeres múltiplos. Cultura é a representação máxima de um povo baseada na diversidade, que é a construção histórica, social e política das diferenças.
A diversidade não é (e nem pode ser) apenas um tema de discussão em mesas de debate, ela se concretiza em corpos, na história e na vida social das pessoas. Portanto, diante de uma discussão tão rica como esta, cabe a nós cuidar para que o debate da Diversidade Cultural não se torne um mito e que os seus resultados possam nos chamar cada vez mais a atenção para esta realidade. O desafio é o que nos move a refletir o conceito de cidadania, e enquanto cidadão, devemos priorizar e reivindicar sempre o nosso direito à igualdade social.
Não se podem tolerar as diferenças, tem-se que reconhecê-las e não custa lembrar que a razão básica do preconceito é a ignorância.
____________________________________________

* Texto escrito por Hugo Lima em 29 de maio de 2007, extraído do "Seminário Diversidade Cultural - Educação, Desenvolvimento Humano e Desdobramentos".
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quinta-feira, maio 17, 2007

EXPLOSÕES/ ISCAS/ SEXTAS-FEIRAS 13/ ALUSÕES REPENTISTAS/ E O CACETE...

(ou autodefinição por um padrão repentista)


Esmiuçando
Esfiapando
E despedaçando
Desmorono-me e revelo-me em nuances
No prisma de meus eus e ais.
Assim sem mais,
Me traduzo ao pé da letra,
Ou tento:
Fragmento sem encaixe
De poema sem saída.
Cafarnaum de partes e pestes
E portos e places,
Sem cais e cordas,
Com caos.
Editor de rasuras, em explosões repentistas.
Foguetório/Crematório das neuroses,
Psicoses e metempsicoses.
Escarcéu de cores, cóleras, taras, crimes,
Desvãos prateados
Engalanados de noturnas insônias, infâmias, insânias
E blasfêmias.
Limo cor de musgo.
Céu cor de gelo.

Vou abrindo e fechando
Fechando e abrindo
Minha caixa de Pandora.
Sou sócio, carteira assinada e livro de ponto,
Do clube onde poesia e fogo se entremeiam.
Componho partituras em sílabas,
Fundindo escrito e oral
Na marra, no pau
À beira de um troço.

Mas eis que fico tonto,
Escuto vozes,
Misturo-me às alucinações
Feito simbiose.

Sigo,
E não traduzo
As algaravias ruminadas
Das vias esburacadas
De minha carcaça estofada
De tudo o que abrange
A palavra enigma:
Apraxia.
Sou senhor de mim mesmo
Até onde olhos vêem.
Descendo das elegias, das odes, das palinódias,
Das paródias, das glosas, dos sonetos,
Dos tercetos e sextetos, cianuretos,
da poesia incrustada feito fruta cristalizada
no pão doce.
Da expressão chama+abc,
Do canhão lançador de sincretismos ilusionismos e paradigmas
À fortaleza inimiga.
Da porralouquice
Em freadas bruscas.
Da iconoclastia, da iconolatria,
Da magia negra.
Das macumbas, das quizumbas, catacumbas.
Do moderno, do inverso, do inverno,
Da “boca do inferno”
Eis Gregório incorporado.
Do Santo do Pau Oco,
Do espírito de porco.
Da relva, do lodo,
Da selva, da maluquice dos manicômios dos malucos.
Da venda dos olhos,
Da fenda das falhas,
Das fagulhas.
Das imperfuráveis madeiras brutas,
Parceiras e sócias majoritárias
Do clube de minhas sextas-feiras
Treze.
Da matéria, da antimatéria,
Da arte que pulsa na artéria.
Dos desabafos fantásticos do Sairlomoon:
O ourives.
Do simples ato de escrever
Para anuviar os excessos
Para despistas os ardis
Para decifrar os enigmas
E apagar o incêndio
Que de tão abastado
Reduz a escrita a um mero pano molhado...

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domingo, maio 06, 2007

O POETA


...

CARTAS EXTRAVIADAS - PARTE 1

Em carta a João Cabral de Melo Neto, datada de 17 de janeiro de 1942, Drummond escreveu, a propósito da inclusão de um poema de Cabral em uma coletânea a ser publicada:
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"Sou da opinião que tudo deve ser publicado, uma vez que foi escrito. Escrever para si mesmo é narcisismo, ou medo disfarçado em timidez. Sem dúvida todo sujeito honesto escreve por necessidade, mas nessa necessidade está latente a idéia de comunicação. Os outros é que gostem ou não gostem. A reação do público evidentemente interessa, mas não deve impressionar muito o autor. Daqui a 20, 30 anos, que ficará de nossos atuais pontos de vista e juízos críticos? As obras terão que ser examinadas de novo. E então haverá uma importância maior no julgamento, ao qual, provavelmente, não estaremos presentes. Como v. vê, eu acho que se deve publicar tudo, menos pelo valor da experiência do que pela operação de extravasamento da personalidade, de outro modo cativa, e pela tomada de contato com o mundo exterior, que é fértil em sugestões e excitações para o autor. [...] Se lhe desagradar a opinião dos jornais e revistas, não publique para eles, publique para o povo. Mas o povo não lê poesia... Quem disse? Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas. [...] Não devemos desanimar com isso. Desde que estejamos vivos, as experiências se realizarão dentro e fora de nós, e haverá possibilidade de progredirmos na aventura poética. O essencial mesmo é viver e acreditar na força admirável da vida, que é nosso alimento e nosso material de trabalho."


***
Em carta de Hugo Lima, destinada à mim, Nelson, datada de 28 de outubro de 2006, o poeta escreve:
.
"Tomei as palavras de Drummond como se fossem para mim. Por isso publico, nos meus blogs, todo e qualquer pensamento, toda e qualquer manifestação interior que parta de mim. Confesso, sou narciso, mas tenho uma honestidade poética que me força, quase que esporadicamente, a me submeter ao extravasamento da minha personalidade que, como sabe, não é uma ou outra, são várias [...] Sou a favor da poesia, sempre. E acredito piamente nas idéias de Drummond. Estou de acordo com elas. "Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas" Não quero que meus poemas comuniquem ou façam algum sentido, não escrevo pra explicar. Expresso, apenas. Sou da idéia de que a poesia é um fazer que si basta a si mesmo, que pode sim servir ao homem, mas apenas na medida em que, capturando os padrões de sensibilidade de cada época, seja capaz de manter viva no homem, exatamente a própria poesia enquanto modalidade específica do fazer humano."
.
.
OBS: Quero com este post (tratando, a meu ver, de um assunto de magna importância e discutido de forma tão delicada) marcar a nova direção da CASA que a partir de hoje, será organizada por mim, Nelson Nobu, http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=15221847701048755955, sob recomendações do poeta, aqui homenageado, Hugo Lima.

sábado, fevereiro 17, 2007

segunda-feira, janeiro 01, 2007

RESSACA


das doze sementes de uva
das três ondas puladas
das setes rosas brancas lançadas
das nove velas acesas
dos cinco incensos de nardo
dos onze nós desatados
dos três peixes comidos
das oito fitas amarradas
dos quatro pulinhos na areia
dos seis pedidos ao santo
das duas taças quebradas
das treze champagnes estouradas
das promessas e oferendas
de toda a elegância esbanjada
das incontáveis fotos tiradas
da pirotesca queima de fogos
das moquecas, bobós e do vinho
de toda a festa celebrada
restou a insatisfação da natureza
que o mar devolveu.

ALMEJO

para 2007...




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