segunda-feira, setembro 10, 2007

A PAISAGEM

OU
OUTRA FORMA DE CORPO
OU
TRADUÇÃO DE UM SONHO EMPÍRICO

[Todas estas palavras me foram ditas num sonho]


Sou como o caracól que pousa nos olhos da planta
ou como a arquitetura da casa que é o meu corpo.

Sou como o ventre da tadre, as mãos do amanhã
os pés da noite-madrugada que persegue o meu sono.
Eu sou o silêncio ensurdecedor do desejo.

Sou o canto de um pássaro, uma phoenix de asas douradas.
Sou só mais uma porção de mar, um grão de areia,
os braços de um rio que abraça o oceano.
A textura dos meus dedos é o adeus pontilhado na sutileza dos meus gestos.

Cada vão de mim é um céu aberto, um vôo de asa-delta
pelo ar dos meus sonhos.
Um florão no meu peito
que enfeita o teto da casa de pedra-pomes.
Tenho pés-de-vento, capim dourado nos cabelos,
pedaço de brisa no olhar, que é triste, senão, azul
tão cinza como o mar vermelho.

Tenho cores na alma e estados de espírito.
Virtuoso colírio de alcançar nos meus olhos
o brilho das elétricas folhas secas
que caem aos pés do outono.

Tenho a leveza dos muitos dizeres,
o ruído das conchas, o assoprar das ondas,
o canto das sereias,
a palma da alma da mão,
o desvão do Éden, o edema de mar,
acúmulo de dias líquidos, chovoso delírio
de umedecer a terra com absinto.

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