domingo, setembro 02, 2007

CARTA EXTRAVIADA

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Jaboatão dos Guararapes, Brasil - Pernambuco / Nordeste


Dia 1 de agosto do 2007

Caríssimo amigo Hugo,


Estou ritmado agora. Curtindo o beat. Sacando o groove. Indo na vibe. Sem jazz, sem folk, sem blues. Estou todo Belo Horizontado. Fragando a sensação. Hu gosto musical de Hugo Lima lima o resto do mundo agora. Estou sambando ouvindo os carros, bebendo sobre as motos, indo para a boate de ambulância (com sirenes ligadas!).

Estou todo vivendo. Em constante “não-parança”. Estou todo movido, mobilizado, lido, relido, feito traça em papel amarelado comendo o “m” da palavra. Estou te ouvindo, bailando com sua persona musical, sentindo os ritmos da sua alma. Não sou homem de detalhes (mentira) então vou sentir você na massa sonora do todo para saber quem você é (e isso talvez não seja mentira).

Estou todo abismado. Sofri uma queda em um abismo. Adentrei o vale da vida, no vão dos que estão vivendo muito, tenho me dado bem aqui.

Há sempre saudade do que já foi vivido, é bem verdade. A isso eu chamo história. História se escreve com algumas letras, portanto cartas. Cartas são diálogos costurados por monólogos, portanto atores, portanto autores. É necessária alguma direção para tudo isso, portanto comandantes do navio das vidas, portanto diretores. Para não haver sóbria e mórbida rotina é preciso alguma graça, portanto artistas, portanto brasileiros. Há que haver também algo mais que ação e reação, portanto humanos, portanto bichos homem. Há que haver um grande motivo para nos correspondermos, portanto amigos, portanto confidentes.

Te acho capaz de criar vidas, dar vida a vãos interiores genuínos ligados pelo traço da sua poesia. Você é também um rapaz abismado, Hugo, só não sei como se relaciona com os vales da vida por onde passa. Isso não importa, de fato.

Às vezes sinto você como um canal de luz que veio ao mundo trazer alguma grande mensagem. O problema é que todo bicho humano tem que carregar o tal fardo da humanidade e todas as suas necessidades. Às vezes é difícil a beça lidar com essa pequena grande variável.

Talvez seja assim com os poetas, com os artistas, com todos que trazem traços do criador. Afinal, toda criação tem um “que” de humano, toda criação tem um “que” de divino. Cabe a nós permear essa existência com busca, com alguma dúvida eterna e então aceitar o que vier.

Vamos aprender com o sertão e os pássaros. Deixemos o resto ao som do silêncio ou de alguma música. Que a vida seja uma ópera rock ou uma singela canção. Que tenha sempre um solo de clarineta. Que quando chorar, eu soe um trompete e, quando delirar, soe uma harpa.

Sou sempre próximo, Hugo, mesmo quando pareço distante. É que eu estou sempre indo, difícil é saber quando vou chegar.


Abraços fraternos,

Fred FurtadO.

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