domingo, maio 06, 2007

CARTAS EXTRAVIADAS - PARTE 1

Em carta a João Cabral de Melo Neto, datada de 17 de janeiro de 1942, Drummond escreveu, a propósito da inclusão de um poema de Cabral em uma coletânea a ser publicada:
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"Sou da opinião que tudo deve ser publicado, uma vez que foi escrito. Escrever para si mesmo é narcisismo, ou medo disfarçado em timidez. Sem dúvida todo sujeito honesto escreve por necessidade, mas nessa necessidade está latente a idéia de comunicação. Os outros é que gostem ou não gostem. A reação do público evidentemente interessa, mas não deve impressionar muito o autor. Daqui a 20, 30 anos, que ficará de nossos atuais pontos de vista e juízos críticos? As obras terão que ser examinadas de novo. E então haverá uma importância maior no julgamento, ao qual, provavelmente, não estaremos presentes. Como v. vê, eu acho que se deve publicar tudo, menos pelo valor da experiência do que pela operação de extravasamento da personalidade, de outro modo cativa, e pela tomada de contato com o mundo exterior, que é fértil em sugestões e excitações para o autor. [...] Se lhe desagradar a opinião dos jornais e revistas, não publique para eles, publique para o povo. Mas o povo não lê poesia... Quem disse? Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas. [...] Não devemos desanimar com isso. Desde que estejamos vivos, as experiências se realizarão dentro e fora de nós, e haverá possibilidade de progredirmos na aventura poética. O essencial mesmo é viver e acreditar na força admirável da vida, que é nosso alimento e nosso material de trabalho."


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Em carta de Hugo Lima, destinada à mim, Nelson, datada de 28 de outubro de 2006, o poeta escreve:
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"Tomei as palavras de Drummond como se fossem para mim. Por isso publico, nos meus blogs, todo e qualquer pensamento, toda e qualquer manifestação interior que parta de mim. Confesso, sou narciso, mas tenho uma honestidade poética que me força, quase que esporadicamente, a me submeter ao extravasamento da minha personalidade que, como sabe, não é uma ou outra, são várias [...] Sou a favor da poesia, sempre. E acredito piamente nas idéias de Drummond. Estou de acordo com elas. "Não dão ao povo poesia. Ele, por sua vez, ignora os poetas" Não quero que meus poemas comuniquem ou façam algum sentido, não escrevo pra explicar. Expresso, apenas. Sou da idéia de que a poesia é um fazer que si basta a si mesmo, que pode sim servir ao homem, mas apenas na medida em que, capturando os padrões de sensibilidade de cada época, seja capaz de manter viva no homem, exatamente a própria poesia enquanto modalidade específica do fazer humano."
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OBS: Quero com este post (tratando, a meu ver, de um assunto de magna importância e discutido de forma tão delicada) marcar a nova direção da CASA que a partir de hoje, será organizada por mim, Nelson Nobu, http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=15221847701048755955, sob recomendações do poeta, aqui homenageado, Hugo Lima.

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